sábado, 6 de novembro de 2010

  Um pouco das Filosofias Educacionais para Surdos


Neste tópico iremos abordar alguns aspectos importantes sobre as filosofias educacionais para surdos: Oralismo, Comunicação Total e Bilinguismo.


Oralismo
  

Oralismo é o processo pelo qual se pretende capacitar o surdo na compreensão e na produção de linguagem oral e que parte do princípio de que o indivíduo surdo, mesmo não possuindo o nível de audição para receber os sons da fala, pode se constituir como interlocutor por meio da linguagem oral¹.
Existem diferentes formas de trabalho orais descritas na literatura, entretanto, todas elas têm como pressuposto que as crianças com perda auditiva devem desenvolver a língua oral como primeira língua, a fim de integrá-las a comunidade geral².  Os oralistas percebem a surdez como uma deficiência que deve ser minimizada pela estimulação auditiva a fim de alcançar a normalidade e a integração à comunidade ouvinte³.
Para que a criança desenvolva a fala e a audição, o método oral baseia-se em uma série de fundamentos²:
            - diagnóstico precoce;
            - avaliação precisa do grau e tipo da perda auditiva;
            - adaptação do aparelho de amplificação sonora individual adequado o mais breve possível;
            - imediata reeducação ao som e à fala;
            - colaboração máxima dos pais no processo de reabilitação;
            - conviver com crianças ouvintes;
            - inserção em escola regular, garantindo a compreensão e colaboração dos professores (a criança só será encaminhada a escola especial se o seu desenvolvimento não for o esperado na escola regular).
O objetivo fundamental a ser alcançado com o trabalho auditivo é o desenvolvimento das habilidades auditivas. A detecção auditiva é a primeira habilidade a ser desenvolvida, visando uma perfeita detecção de sons ambientais e de sons da fala. A segunda habilidade a ser desenvolvida é a discriminação auditiva que ocorre quando, diante de dois ou mais estímulos, o deficiente auditivo consegue distinguir a igualdade ou diferença entre eles. O reconhecimento auditivo requer a identificação, diante de dois ou mais estímulos em conjunto fechado, qual deles foi ouvido e na etapa mais avançada identificar e/ou repetir o estimulo que foi ouvido diante de um conjunto aberto. A última habilidade a ser desenvolvida é a compreensão auditiva, que se trata da habilidade de entender a linguagem oral; trata-se de compreender e de se fazer compreender4.
Diversos fatores, tanto inatos como ambientais, podem influenciar o desenvolvimento da linguagem oral pela criança. É muito importante que a família siga as orientações dadas pelo terapeuta no sentido de um comportamento que aumente a qualidade e as trocas de comunicação com a criança. A família é a chave para o sucesso do trabalho terapêutico, quanto maior participação dela, melhor resultado será obtido no desenvolvimento global da criança4.


Comunicação total


A comunicação total é uma filosofia, que tem como principal preocupação, estabelecer a comunicação entre surdos e surdos e entre surdos e ouvintes. Esta filosofia se preocupa também com a aprendizagem da língua oral pela criança surda, ela defende a utilização de recursos espaço-viso-manuais como facilitadores da comunicação3.
Os profissionais que seguem essa filosofia, não veem o surdo como portador de uma patologia, que precisa ser eliminada, mas como uma pessoa, e a surdez como uma marca que influencia no desenvolvimento dessa pessoa.
A comunicação total acredita que somente o aprendizado da língua oral, não garante pleno desenvolvimento da criança surda, visto que o desenvolvimento cognitivo, social e emocional, não é garantido com o uso exclusivo desta língua3.
Uma das diferenças entre a comunicação total e as outras filosofias, é que esta defende o uso de qualquer recurso linguístico, seja a língua de sinais, a linguagem oral ou códigos manuais , facilitando a comunicação com as pessoas surdas. A comunicação total privilegia a comunicação e a interação e não apenas a língua (ou línguas). Outra característica importante é que essa filosofia valoriza bastante a família da criança surda, acreditando que a esta, cabe o papel de compartilhar seus valores e significados3.
No Brasil além da língua brasileira de sinais (Libras) a comunicação total também utiliza:
  • Datilologia ou alfabeto manual – representação manual das letras do alfabeto.
  • Cued-speech – sinais manuais que representam os sons da língua portuguesa.
  • Português sinalizado – língua artificial que utiliza o léxico da língua de sinais com a estrutura sintática do português e alguns sinais inventados para representar estruturas gramaticais do português que não existem na língua de sinais.
  • Pidgin – simplificação da gramática de duas línguas em contato, no caso, o português e a língua de sinais3.
A comunicação total recomenda o uso simultâneo desses códigos manuais, com a língua oral, esta forma simultânea é chamada de bimodalismo. A língua de sinais não pode ser utilizada simultaneamente com o português, pois não temos capacidade neurológica para processar simultaneamente duas línguas com estruturas diferentes. Esta filosofia acredita que cabe a família decidir qual a forma de educação que seu filho terá3.   


Bilinguismo


O bilinguismo, aliado aos estudos linguísticos, teve origem a partir das mobilizações de diversas comunidades que, por sua vez, mostravam a insatisfação dos surdos com a proibição do uso da língua de sinais3.
O modelo bilíngue de educação pressupõe uma postura de respeito humano aos surdos, fazendo com que eles se desenvolvam não como aqueles que têm uma dificuldade, que tendem ao fracasso, mas sim como indivíduos capazes e completos5.
O surdo é concebido como indivíduo pertencente a uma comunidade minoritária (comunidade surda), usuário da língua de sinais e que tem as mesmas capacidades e potencialidades que qualquer indivíduo ouvinte6.
O trabalho através da proposta bilíngue é feito de forma que o surdo desenvolva competência em duas línguas: a língua de sinais e a língua utilizada pela comunidade majoritária ouvinte. Acredita-se que o desenvolvimento da língua de sinais como primeira língua, proporciona o desenvolvimento dos indivíduos surdos nos aspectos: linguísticos, cognitivo e social. Será com base nesta primeira língua que a aprendizagem da segunda, no caso do Brasil, o português, ocorrerá, tanto na modalidade escrita como na modalidade oral, para aqueles que têm possibilidade6.
É importante que os profissionais e a família percebam a importância da língua de sinais, para o desenvolvimento do indivíduo surdo. Essa língua é a única que pode ser adquirida espontaneamente por ele, ou seja, em suas relações sociais, nos diálogos, uma vez que para a aprendizagem da língua oral pela criança surda, requer técnica específica3.
O bilinguismo, do mesmo modo que outras filosofias, não é uma filosofia homogênea. Os profissionais atuam e pesquisam seguindo diferentes abordagens nessa linha teórica. Vale ressaltar que o bilinguismo não se resume a aquisição de duas línguas e sim uma mudança filosófica de postura política, cultural, social e educacional, sendo necessário dar importância à língua e linguagem que o surdo possui, ao que ele sente e como ele vê e percebe o mundo5.

“A educação dos surdos tem que deixar de ser a reabilitação dos deficientes auditivos.” (Vítor Teté)


Referências:

1. SOARES, M A L. A Educação do Surdo no Brasil. São Paulo: EDUSF, 1999.
2. HARRISON, KMP; LODI, ACB; MOURA, MC de. Escolas e escolhas: o processo educacional dos surdos. In: FILHO, OL (org.). Tratado de Fonoaudiologia. 2ª Ed. Ribeirão Preto, SP: Tecmedd, 2005. p. 394-95.
3. GOLDFELD, M. A criança surda: Linguagem e Cognição numa Perspectiva Sociointeracionista. São Paulo: Plexus, 1997.
4. BEVILACQUA, MC; FORMIGONI, GMP. Audiologia Educacional: Uma Opção Terapêutica para a Criança Deficiente Auditiva. São Paulo: Pró-Fono, 1997.
5. CARMO, M. S. et al. Linguagem e Surdez. In: LACERDA, C. B. F. et al. Fonoaudiologia: Surdez e Abordagem Bilíngue. São Paulo: Plexus, 2000. p. 42-53.
6. MOURA, M. C. et al. História e Educação: O surdo a oralidade e o uso de sinais. In: LOPES FILHO, O. Tratado de Fonoaudiologia. 2ª ed. Ribeirão Preto, SP: Tecmedd, 2005. p. 314 – 364.

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