domingo, 7 de novembro de 2010

 Sessão Entrevista

  
Thalita Chagas Silva Araújo é graduada em Pedagogia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atualmente cursa a graduação à distância em Letras/LIBRAS (bacharelado) pela Universidade Federal de Santa Catarina - pólo UFBA. É certificada pelo Prolibras (MEC) como tradutora intérprete de Libras-Português e Português-Libras em nível médio e instrutora de Libras em nível superior. Trabalha como professora de Língua Brasileira de Sinais (Libras) dos cursos de Licenciatura em Música e de Pedagogia da Faculdade Evangélica de Salvador (FACESA), como Tradutora Intérprete de Língua de Sinais em eventos, leciona em cursos de extensão de Libras e em cursos de Libras no CAS Wilson Lins (escola de surdos da rede estadual de ensino da Bahia).

P- O que é o intérprete para você?

T- O intérprete ou Tradutor Interprete de Língua de Sinais (TILS), é a pessoa que transpõe da língua portuguesa para a Língua de sinais alvo (no nosso caso a Língua de Sinais Brasileira) o que está sendo dito, ou vice-versa.

P- Qual a formação que se deve ter?
T- A lei 12.319/2010, com relação à formação do TILS no artigo 4, parágrafo único, diz que:
 A formação de tradutor e intérprete de Libras pode ser realizada por organizações da sociedade civil representativas da comunidade surda, desde que o certificado seja convalidado por uma das instituições referidas no inciso III (Inciso III - cursos de formação continuada promovidos por instituições de ensino superior e instituições credenciadas por Secretarias de Educação).
Porém, existe no Brasil a graduação à distância e presencial em Letras/Libras – bacharelado, que forma o TILS para atuar nos mais diversos espaços da sociedade. Além disso, o TILS que não tem formação específica pode obter certificação de proficiência em Libras através de um exame chamado Pró Libras.
P- Você é intérprete há quanto tempo?
T- Eu sou TILS há 7 anos.
P- Qual a sua experiência como intérprete, onde já trabalhou? Foi bem recebida?
T- Comecei a interpretar em 2004, e como a maioria dos TILS, em ambiente religioso. Coincidentemente esta foi a época que comecei minha graduação em Pedagogia. Então pouco tempo depois eu comecei a interpretar também em escolas.
Na primeira escola que atuei como TILS (2005) não fui remunerada, foi um acordo de estágio em apoio à inclusão de um aluno surdo de 14 anos no 3º ano do ensino fundamental. A escola prometeu um período de adaptação do trabalho por 2 meses e posterior contratação. Mesmo sem conhecer as práticas de um TILS educacional a escola mostrava-se bem aberta a esta novidade. Ao longo do trabalho foi percebida a diferença no desenvolvimento do aluno, que superou as expectativas de todos, pois ele começou a ser mais participativo, melhorou as notas e o relacionamento com toda a comunidade escolar. Porém a escola não pode me efetivar e com quase 4 meses de trabalho decidi sair.
É importante ficar claro que o trabalho de um TILS não é assistencial, o exercício da interpretação é árduo e cansativo. Interpretar durante horas, de pé e sozinho (sem revezamento) é um crime contra a saúde de qualquer profissional.
Bom, depois de um tempo participei de uma seleção e comecei a interpretar em uma escola pública federal desta cidade (2008/2009). Lá as pessoas responsáveis pelo setor de inclusão já conheciam a prática de um TILS por terem sempre alunos surdos na escola e por terem tido problemas em encontrar um TILS que se adaptasse as necessidades locais. Permaneci nesta instituição por um pouco mais de 7 meses, mas os alunos perderam de ano, pois antes de mim estavam sem TILS regular na sala de aula, o que prejudicou decisivamente o aproveitamento dos estudos dos estudantes surdos em questão.
Antes da escola citada anteriormente, fui convidada pela então coordenadora de uma instituição de ensino superior de Salvador para interpretar no curso de pedagogia para duas recém chegadas alunas surdas (2007 até os dias atuais).
No início quem sustentava a manutenção da interpretação eram as famílias das duas alunas. Porém uma delas, por dificuldades pessoais, abandonou a faculdade e a outra surda que permaneceu, tomando conhecimento de seus direitos, exigiu que a faculdade bancasse as suas necessidades, afinal isso sim é inclusão! E desde então a faculdade tem me mantido.
Deste trabalho tenho muito orgulho e brevemente o verei culminar numa formatura em dezembro. É muito bom ver que o que fazemos tem muito resultado!
P- O que você acha sobre o papel do interprete na escola?
T- O TILS educacional tem um papel importantíssimo na inclusão das pessoas surdas em ambientes escolares. Sem este profissional todo o aprendizado da pessoa surda será prejudicado, é como uma pessoa falante da língua portuguesa assistir aulas em alemão! Não dá pra acompanhar!
Além do acompanhamento com o estudante surdo e tradução das aulas, é importante que o TILS faça um trabalho de sensibilização junto a comunidade escolar, para que sejam esclarecidas as especificidades das pessoas suras, sua forma de aprendizado, o que cabe numa aula para surdos e o que deve ser evitado. Os professores não têm uma formação especifica nesta área, por isso essa explicação inicial é importantíssima!
P- Como os intérpretes são vistos e recebidos na cidade de Salvador?
T- Em minha experiência pessoal sempre fui muito bem recebida, porém já ouvi relatos de colegas que professores trancavam as portas da sala para que o TILS não entrasse, ou agiam com desconfiança na presença do TILS.
Essas dificuldades se dão por causa da falta de esclarecimento que existe da função dos TILS, mas que pouco a pouco têm sido sanadas. Quando há necessidade de comunicação e esta não acontece, ter um intérprete por perto sempre ajuda!
P- Onde encontrar? Tem associação?
T- Com a recente regulamentação da profissão do TILS através da lei 12.319 de 02.09.2010 TILS de todo Brasil têm se articulado para formação de um sindicato dos profissionais TILS, porém já existem diversas associações em todo Brasil.
Porém por causa da recente regulamentação da profissão, muitos TILS ainda não possuem a formação desejada e nem são afiliados a associação do seu estado, então além de encontrar TILS nas associações muitas vezes encontramos eles por indicação de algum colega de profissão ou pessoa surda que tem contato com TILS.


Para maiores informações acesse o blog de Thalita: http://cursodelibrasextensao.blogspot.com/

Nenhum comentário:

Postar um comentário